A Ovelhinha— Deus viu Bate-Seba
Eu tentei, sabe... tentei limpar a barra de Davi. Mas quanto mais eu olho pra história, mais percebo: não tem como. Ele era o rei. Ele tinha poder. Ele sabia que ela era casada. E mesmo assim mandou chamá-la. Ela não foi até ele por vontade própria. Ele a trouxe. Ele a tomou. Ele sabia o que estava fazendo.
E ela? O que poderia dizer? “Meu rei, eu sou casada. Isso é adultério. Isso é pecado. Isso é sentença de morte.” Você acha mesmo que ela teria voz pra isso? Diante de um rei? Diante de alguém que podia decidir o destino dela e de seu marido?
E o que Davi fez? Matou Urias. Matou o marido dela. Um homem fiel, leal, honrado. E tomou a mulher dele como esposa. Que prova maior precisamos de que ele era capaz de cometer os atos mais absurdos?
Mas sabe o que mais me toca? É como Deus olhou para Bate-Seba.
Ela não foi chamada de mulher de Davi, mesmo depois de casada com ele. Lá em Mateus 1:6, na genealogia de Jesus, ela é mencionada como “a mulher de Urias”.
Isso me quebra por dentro. Me toca profundamente.
Porque é como se Deus dissesse:
“Ela não é propriedade do homem que a tomou. Ela permanece, aos Meus olhos, a mulher do homem que a amava. A mulher que foi injustiçada. Eu honro a história dela.”
E então vem o profeta Natã. A parábola da ovelhinha.
Que coisa mais linda.
A ovelhinha dormia no colo, comia do prato, bebia do copo. Era única. Era amada. Era parte da casa.
E foi tirada.
Deus não disse: “Vocês pecaram.”
Deus disse: “Tu és este homem.”
Davi foi confrontado. Não ela.
Ela foi protegida até na parábola.
Ela era a cordeirinha.
Ela sofreu, sim. Perdeu o filho. Chorou.
Mas depois...
Deus permitiu que ela gerasse Salomão.
E a Bíblia diz: “E o Senhor o amou.”
Um novo começo. Um sinal de graça.
Deus ainda estava com ela.
Essa história me faz pensar:
Quantas mulheres já foram vistas como culpadas quando, na verdade, foram vítimas?
Quantas cordeirinhas existem por aí, que só o céu reconhece?
Mas Deus vê.
Deus conhece a verdade por trás dos muros do palácio.
Deus não esquece o nome das injustiçadas.
Deus não apaga a história das mulheres feridas.
Ela será sempre lembrada como a mulher de Urias.
Porque, aos olhos de Deus, ela nunca foi de outro.
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